Todo começo de ano são as mesmas resoluções, eu sigo com o mesmo “prometo que agora eu vou fazer texto regularmente”, no fim das contas, fica apenas mais um blog no marasmo da internet. Desta vez, eu prometo que em dois mil e dezenove farei (pelo menos) um post por mês e espero de coração cumprir essa promessa, já tenho um apego enorme por esse “meu lugar” no Mundo. O Fala Torcedora! é importante para mim por diversos motivos, tanto como posso me expressar com as pessoas, quanto pela visibilidade que ele já me forneceu para poder falar sobre os problemas que já sofri e presenciei nas arquibancadas.

Começo 2019 perguntando para todas as mulheres, quais as situações mais constrangedoras que vocês sofreram ou presenciaram nas arquibancadas?

Sempre quis falar sobre isso e em algumas conversas que tive durante os últimos meses, relembrei de situações que passei quando era mais nova, que antes tentava ignorar – mesmo me constrangendo de formas mais absurdas –  mas que “deixava quieto”, pois até então, mulher em arquibancada não tinha voz alguma. Tenho diversas histórias – totalmente absurdas – para contar, que só fui me dar conta recentemente; nas discussões, nos empoderamentos que a vida nos proporciona, na leitura de livros e também no entendimento de algumas leis e direitos.

Quando eu tinha 15 anos (mais de 10 anos atrás) fui “obrigada” a passar na revista MASCULINA em um jogo fora de Piracicaba, pois não tinha policial feminina para revistar e caso me recusasse, ninguém entraria no jogo. Também entrando com material de torcida (mais precisamente um surdo), que estava no meu nome, lembro do policial falando “SE TÁ NO SEU NOME, VOCÊ É RESPONSÁVEL, QUERO VER VOCÊ LEVAR E SEGURAR ELE NA ARQUIBANCADA” e foi assim, que em Jaguariúna, em uma partida entre Audax x XV de Piracicaba, eu tive um policial me acompanhando por quase todo o caminho até a arquibancada, para ver se eu conseguiria levar o surdo.

 

Jaguariúna
Jaguariúna 2011

Já vi olhares tortos, comentários maldosos, senhores de idade e “pessoas do bem” te apontando o dedo e dizendo palavras horríveis só porque estava desacompanhada no Estádio. Presenciei estádios sem estrutura e principalmente sem banheiro feminino na visitante; inclusive, o Estádio Comendador Agostinho Prada, casa do Independente de Limeira é um desses da lista, onde que para ir ao banheiro, tu precisa PEDIR ao policial, que te ESCOLTA na torcida local.

Deixei por último, a mais absurda das histórias que passei, primeiro vou fazer um breve panorama do futebol do interior paulista, pelo menos do que eu vivia e de como é algumas coisas. As torcidas se conhecem de alguma forma, as pessoas sempre sabem quem são os outros torcedores dos outros times, então eu estou falando de jogar um Campeonato Paulista A2, que quando eu vou no estádio do adversário, tendo rivalidade, ou não, eu sabia quem era alguns torcedores, as redes sociais tem aproximam disso, e é aquele lógica de não levar o “rival” como “inimigo”, todo mundo no interior sabe o que os times sofrem, de descaso, de falta de apoio e de viagens cansativas para estádios terríveis.

Nesse contexto todo, a pior coisa que passei em um estádio de futebol, foi no Estádio Doutor Novelli Junior, em Itu, em 2011, em um jogo que o XV venceu o Ituano por 4×0. Já tinha se passado algum tempo de jogo e eu era uma das poucas mulheres na arquibancada visitante e tive que escutar da torcida local cantos com MEU NOME, de formas horríveis que me constrangeram de maneiras mais horríveis ainda. Lembro até hoje de como foi a situação e nunca descobri quem começou cantando e porque, já que eu nunca tinha dado liberdade para nada, mas com toda certeza, foi um dos meus piores momentos nas arquibancadas.

Sei que muitas mulheres, passaram e passam por coisas parecidas e até piores e é por isso que gostaria de saber e fazer posteriormente um post com relato de todas e se tiveram reações na hora, para poder ser um guia de como “lidar” com essas  situações adversas.

 

eeee

 

Monique Torquetti, 26 anos, jornalista, aspirante na fotografia, quase blogueira e com toda certeza uma torcedora viciada pelo XV de Piracicaba e na cultura do futebol.

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